terça-feira, dezembro 30, 2008

Fim de ano

Fim de ano.
Momento de balanço e reflexão. Do que se alcançou e do que ficou por alcançar. De exprimir gratidão pelas vitórias alcançadas e pela persistência nas lutas que ainda duram. De relançar projectos, propósitos, alvos.
Para mim, o ano ficou marcado em especial pela paternidade. Pelo privilégio de ver nascer a minha filha, Caroline, crescer, metamorfosear-se, de ouvir chorar, rir e balbuciar, ronronar, de a adormecer nos braços. De os meus braços serem por ela procurados. De ela se agarrar às minhas pernas. De a ver manifestar um temperamento, com tudo quanto nele há de próprio e herdado de pai e mãe. De a ver viver.
De vê-las dar passos. Ainda que os meus olhos não tenham visto esta conquista. E só não dá mais passos por preguiça. É um barco que navega junto à costa, apoiada a coisas ou a pernas, mas que o longo não se aventura, preferindo sentar-se no chão e gatinhar.
Bendito seja o nome do Senhor!

quinta-feira, dezembro 04, 2008

Mudanças, instalação


A casa situa-se num bairro de uma vila numa região que foi há décadas terra mineira e de indústria de aço. Onde se veio implantar, entre outras, uma importante comunidade italiano.

Mudanças feitas. Instalação concluída. Mas ainda as obras. Parece que estamos uns em cima dos outros. E há defeitos na casa que se vão descobrindo.
Mas como sói dizer-se: Roma e Pavia não se fizeram num dia. E é uma casa para a vida (ou até que Deus permita vender esta e comprar outra). Na recuperação dos exteriores e interiores. Nas águas furtadas, que um só dia poderão ser uma divisão mais (um grande quarto ou escritório, ou, divididas em duas). No quintal, que poderá ser plantado, parte dele transformado em jardim.
Oops… Algumas tábuas de madeira no chão do quarto das meninas estão mal assentes, ou flutuam, e eu esqueci-me disso e no outro dia pisei uma… e rachou.
Roma e Pavia…

terça-feira, outubro 28, 2008

Mudanças

Estamos em mudanças. Comprámos casa e estamos em mudanças. Obras por fazer na nova casa. Pó. O prazo (fim do mês) que se aperta para deixar a casa de renda onde ainda estamos, em Saulnes, para Herserange, aqui ao lado. Caixotes. Pegar constantemente na Caroline ao colo, que com dificuldade vive este período, sem poder pô-la no chão e deixá-la explorar o mundo "à quatre pates" (de gatas), pois este já sujo.
Mudanças. Depois disto, um tempo de transição em que viveremos numa casa ainda em obras.
Até que tudo se estabilize e possamos dizer que estamos definitivamente instalados. E pouco a pouco vamos fazendo um arranjo aqui, um incremento acolá, na casa, na varanda, no jardim. Teremos tempo. E valorizaremos o nosso espaço, a casa que Deus nos permitiu comprar e que será o nosso lar por muitos e longos anos. E cremos que os recursos não nos faltarão. Pela bênção de Deus, e ao arrepio da crise de que se ouve falar no mundo.
"Põe a tua confiança no Senhor, e não no teu próprio entendimento" – diz a Escritura.

sábado, setembro 27, 2008

Lisboa revisitada (2008)




Tinha saudades tuas, Lisboa da minha infância e adolescência
Da Lisboa de outrora de hoje, do manto de céu de rainha
Das colinas do império e dos Mouros e Judeus
Da macieza do Tejo mudo e dorido de naus cacilheiros e sonhos lançados às águas
E de tudo

Do mistério de teres sido minha mãe e de eu ser teu filho pródigo
Te revejo e a ti regresso breve
Eu, sim, o mesmo que volta à mesma cidade? Outro sou, e mesmo
E tu, sempre Lisboa. Continuas a dar à luz filhos e filhas, a receber outros adoptivos
Em ti há mais árvores, mais floresta, mais galerias de toupeira.
Formigas que vão e vêm, de todos os solos, pétalas multicolores
Mas sempre o mesmo moroso estar e não estar com um café e uma imperial
O fluxo alucinado do trânsito
E o Tejo quieto e mudo
Que me dá o seu abraço e me saúda, filho de visita
E me dá as boas-vindas – e eis-me reconciliado com o fio-memória
Que me liga a mim mesmo
E ao Cristo Rei, a quem hoje sirvo
Abraço nocturno – porque à noite é mais belo, como xaile negro de fadista

Lisboa de mágoas e amor, de correrias e demoras
De museus e história
Embora novos prédios se ergam eucaliptos, novas estradas te sulquem a pele
E novas linhas de metro te perfurem a carne,
Se possa matar apetite e tédio em novos restaurantes

Novos gestos, vestes e adereços no cabelo
Que eu não conhecia
És a Lisboa de cujos seios me nutri,
Folgazão e estudante
Em bebedeiras e paixão,
Em cujo horizonte de mundo desenhei o porto da minha navegação
Exibes ainda a mesma nostálgica majestade nas praças e avenidas
Cingida de ouro do céu e de prata do Tejo
Que revejo, com um sorriso.

Quando voltar a Portugal, é a ti, Lisboa, que voltarei.

quinta-feira, agosto 21, 2008

Os candidatos e as suas religiões




Sempre, desde que me lembro, as eleições presidenciais norte-americanas foram marcadas pela fé religiosa dos candidatos, assumida e/ou vivida. Invariavelmente, esse debate gira em torno do cristianismo evangélico, das suas tendências, e do que este representa como influência política, sociólogica, cultural e espiritual.
Se eu fosse cidadão americano evangélico, ou me deixaria levar nas ondas dominantes, ou teria grandes dificuldades em escolher em quem votar. Todos se declaram evangélicos, mas as suas obras deixa muito perplexo e confuso quando à genuinidade da sua fé. No caso do presidente actual ou passados, George W. Bush foi eleito duas vezes com o apoio da maioria dos evangélicos. Confessa Cristo Jesus como Senhor e Salvador. Defende a pena de morte. Empreendeu uma guerra (no Iraque) com base numa mentira (a existência de armas de destruição), inspirado supostamente por Deus, mas que resultou num pântano. Quando Deus age e ordena uma acção, funciona e resulta restauração e estabilidade, não confusão. Jimmy Carter, ex-presidente democrata, embora evangélico, situa-se do outro lado da barricada política.
Bill Clinton igualmente se declarou evangélico baptista. Cometeu adultério e apoiou a liberdade do recurso ao aborto como opção.
Dos actuais candidatos, John McCain é conservador quanto ao aborto e à união matrimonial homossexual, e promete prosseguir a política externa de Bush. Barack Obama, se promete mudar a política externa, é liberal quanto ao aborto e defende o direito ao casamento homossexual.

Se fosse cidadão norte-americano evangélico, poderia ser conservador quanto à moral sexual e à defesa da vida dos fetos humanos, continuar a defender a pena de morte e a proclamar o carácter messiânico da nação americana, defendendo a legitimidade do argumento da força no exterior, ainda que com o preço de um pequeno pretexto, vulgo "peta". Ver-me-ia no risco de me deixar levar pela onda dominante e talvez votasse Republicano.

Mas, embora seja evangélico, não sou cidadão norte-americano. Por isso, tristemente confesso que a não-escolha é fácil para mim.

sábado, agosto 09, 2008

Ser pai… # 2



A minha filha já tem 6 meses. Como voou o tempo – um lugar comum, mas uma evidência.

Em 6 meses, desenvolveu-se dos 50,5 cm e 3,2 kg até aos 67 cm e 7,4 kg.
Cada vez mais bonita. E cada vez mais se revelando o seu temperamento. De uma menina calada que mal conseguia chorar e não ria, passou pela crise das dores de barriga dos três primeiros meses. Então aprendeu a chorar: de dores, de fome, de desconforto, de resistência ao sono. De birra, de fitinha. Várias vezes este pai se irritou e lhe dava uma ou duas palmadas no traseiro. Supostamente teria fome — pensava o pai — por haverem passado muitas horas desde a última refeição, o pai dava-lhe o biberão e ela fazia fita e pouco bebia. Ou tinha sono mas resistia e desatava a chorar. O que o pai conseguia era com as palmadas era provocar mais choro, e logo se arrependia da estupidez, pedia desculpa à filha e ajuda ao Espírito Santo para o ajudar a dominar-se a si mesmo. Hoje chora, ri, sorri muito, abre-se muito aos outros e às atenções que
lhe queiram dar.
Muito mexida, energética, forte e saudável. Desde muito cedo gosta de balanço e de fazer de avião — o que dá o pai que daqui a uns anos ela será viciada em montanha russa, em rodas e gigantes e outras coisas mais radicais — o que será para este pai um doce regresso à meninice, pois também gostava dessas coisas. Não pára quieta. Até os dedos dos pés estão sempre a mexer-se.
Curiosa, quer ver e mexer em tudo. Dede os 4 meses que consegue manter-se sentada sem apoiar o tronco. Hoje, consegue-o já durante muito tempo. Até que se cansa, ou se mexa procurar alcançar algum objecto, e cai: para trás, de lado, para frente, de cabeça. Por vezes magoa-se.
Quase gatinha. Deitada de gostas ou de bruços, num piscar de olhos já se arrastou para outro lugar e se acha em outra posição. Facilmente se vira, estando de costas, para posição de bruços, e vice versa. Faz força nos quadris, estica as pernas, e acto contínuo a cabeça e o tronco baixam e afunda a cabeça no tapete. E então zanga-se e reclama. Mas insiste. Se deitada com a parte baixa do tronco, estica os braços e levanta a cabeça, e assim consegue ficar longos segundos, olhando para a televisão ou para outra coisa qualquer.
Desde os 4 meses também que, pegando-se-lhe nas mãos, estando deitada, é capaz de se erguer e sentar sozinha. Agora, basta pegar-lhe em apenas uma mão para ela ter onde se apoiar, sem a puxar, e ela não precisa de mais nada. Já descobriu que pode usar a outra mão, apoiando-a no solo, enquanto faz força para levantar o tronco. Mais ainda: já se levantou sozinha, connosco à distância a assistir. Sentada, com as pernas flectidas para dentro, as mãos, e ei-la que, apoiando-se nelas, faz força nos pés e nas pernas, estica-as e levanta-se. Novamente sozinha.
Por vezes, fica absorta a olhar para a televisão, que propositadamente sintonizamos em canais para crianças desenhos animados, sentada no tapete no chão, queixo levantado e fazendo uma boquinha. E enquanto assim estiver ocupada, não liga a nada nem a ninguém.
Segundo um livro, aos 8 meses a criança consegue reconhecer o seu nome, quando chamado, e adoptar estratégias para chamar a atenção e dar e entender que quer mimo, como a tosse. Aos 6 meses, isso já ela sabe fazer. A Cristina testemunhou até que, certa vez, estando sentada, se deixou cair e começou a clamar por atenção.

Depois dos "rrreeesss" dos 3 meses, a sua garganta já produz uma variada gama de sons, gritos, canções. Na igreja, após o tempo de louvor, em que normalmente se mostra sossegada, começa a manifestar-se: grita, canta, prega.

Em Junho, começou a variar a dieta alimentar, com as papinhas de vegetais, frutos, e agora de refeições completas de carne e acompanhamento. Aplica-se-lhe um babete, dá-se-lhe a colher à boca, mas como criança que é fica o babete, a boca, os lábios, o queixo, as bochechas, os olhos, o cabelo tudo sujo. E fala enquanto come. E quer levar a mão e o pé à boca, e também acabam por comer.

Quando tem sono, é aconchegá-la ao ombro ou peito, embalá-la um pouco (por vezes esse pouco é longo), até que, nesse conforto e nesse mimo, adormeça.

Recentemente, aprendeu o gesto de bater palmas (a foto é de um desses ensaios). Falta ainda a perfeição na coordenação dos movimentos, manter as palmas abertas e acertar bem com uma na outra. Mas o movimento de lançar uma mão contra a outra lá está, o imitar do gesto que vê os pais fazerem e que estes ensinam o bebé a fazer, pegando-lhe nas mãos e executando-o. Foi a Cristina que o testemunhou pela primeira vez; chamou-me aos gritos e pudemos os dois assistir com entusiasmo e grande festa a esta nova proeza.

Que experiência, esta de ser pai. Nada é mais excitante nem doce, em especial o tempo de bebé. Brincar com a bebé, balançá-la, aconchegá-la. Ouvi-la, falar com ela, cheirá-la. Tudo nela é especial. E esta foi especialmente marcada pelo Criador Deus com uma manchinha de nascença na face direita. Cada dia é uma novidade, uma graça nova, uma proeza nova. E mesmo que nada haja de novo em certos dias, mas apenas a repetição de um gesto, um som, uma atitude, das mesmas coisas que o bebé já sabe, representa para um pai a reedição da novidade, que ele saboreia deliciado.

terça-feira, julho 15, 2008

Ingrid Betancourt e ZIdane



Não sabemos que não há seres humanos perfeitos (não falamos de Jesus, obviamente)? E que não há bela sem senão?
Não é que Ingrid Betancourt teria afirmado, em entrevista a uma revista francesa, que "adorou" a cabeçada Zidane deu no italiano Materazzi, na final do campeonato do mundo de futebol de 2006. O próprio Materazzi,admitira que provocara jogador francês.
Contra os métodos violentos das FARC e de todos os corruptos e narco-traficantes da sua Colômbia, Betancourt tem usado a força da inteligência. Zidane, ele próprio, não deixa de concordar. Contra as provocações dos adversários, é preciso é usar a cabeça.

Um FARCuinho comunista


A libertação de Ingrid Betancourt e de outros catorze reféns das FARC (Forzas Armadas Revolucionarias de Colombia) a 2 de Julho foi motivo da apresentação de votos de congratulação na Assembleia da República, como nos demais países europeus. Dois votos foram apresentados: um apresentado por PS, PSD e CDS-PP, o outro pelo PCP.
O primeiro voto classificava as FARC de grupo terrorista, repudiando as suas actividades, e foi aprovado com voto contra do PCP e a favor dos demais partidos. O segundo voto, por sua vez, proposto pelo PCP, foi rejeitado, com votos a favor do pleno da esquerda à esquerda do PS e dos partidos de centro-direita.
O PCP recusa-se a classificar as FARC de organização terrorista, a despeito dos seus métodos, a que não são alheios, por exemplo, a ameaça de morte que pesa sobre os seus membros que, na luta militar e de espionagem contra o exército estatal, deixem escapar um prisioneiro ou se deixem tocar por um pouco de compaixão, à revelia das chefias.
No seu voto, o PCP prefere um registo neutro de satisfação por esta libertação e mostra insatisfação por esta luta de décadas, com prisioneiros e mortos de cada lado. Ao fim e ao cabo, como salientam os restantes partidos de esquerda, o mal não está apenas de um dos lados, e de ambos os lado há vítimas (como o próprio PCP assume). Não bastando porém isto, logo a seguir borrar a pintura, desancando somente no "fascista" do Presidente da Colômbia, Álvara Uribe e descarregando toda a sua bílis, como era previsível, sobre os EUA, com o blá blá blá do costume. A famosa cassete.
O PCP mantém-se fiel ao que sempre foi. Revela, mais uma vez, que nada aprendeu, e que a fidelidade à ideologia e às simpatias partidárias falam mais alto do que a justiça em sentido absoluto. Assim é fiel ao saudoso pai dos povos Estaline, como ao comunismo dinástico de Pyongyang. É a mesma fidelidade que tem ao Fidel. A tirania de direita é má; aquela que se proclama de Marx, Lenine, Estaline, da família Kim, de Mao, de Castro e Che Guevara é sacrossanta e libertadora. Não importa que haja homicídio, tortura, massacres, coacção, roubo e saque no currículo destes senhores. O genocídio cultural do Tibete pelos comunistas de Pequim é uma bagatela para o PCP. Apesar da semelhança em relação à estratégia do "direitista" e imperialista pró-americano Suharto aquando do domínio indonésio em Timor Oriental, colonizando os territórios dominados com populações de funcionários, elites e militares da etnia dominante no governo (estratégia que os Romanos e outras puseram em prática).
A proverbial "coerência" de Álvaro Cunhal e seus herdeiros é de facto — já as mentes sensatas o sabiam há muito — incoerente. O pior é que o PCP se mantém prisioneiro destas insanáveis contradições. Teria sido escandaloso não se congratularem, de todo, pela libertação dos reféns. Na sua contragutalação, porém, limitam-se a um shame on you, mister Uribe, and on you, mister Bush, and on those before you! A santidade revolucionária das FARC, debaixo do pétreo silêncio do PCP a seu respeito, permanece imaculada.

Ter-lhes-ia feito bem atentarem um pouco no percurso político dessa senhora, ex-candidata presidencial. Antes e depois da sua captura e libertação, lutava politicamente contra a corrupção, o rapto, o homicídio, o tráfico de droga, tanto de um lado como do outro. Se Álvaro Uribe, por exemplo, é suspeito de tráfico de droga para financiar o seu poder, as FARC, ao que parece, recorrem ao mesmo meio para adquirir armamento.

Quem não quer aprender, como o PCP, não só fica ignorante como de nenhuma utilidade serve.

sábado, junho 28, 2008

Exposição online de cadernos de Fernando Pessoa


Imagens digitalizadas fac-similadas de espólio de Fernando Pessoa, com descrição dos manuscritos, no portal electrónico da Biblioteca Nacional, do poeta sempre desafiador que sentia a pensar, aqui!

sexta-feira, maio 30, 2008

Verdade conveniente



As árvores já têm copas de lava
de tão violentadas as águas do rio
exibem fissuras nos dedos
os ursos polares têm calor em pouco gelo
ao sol.

O que antes foram cedros e figueiras e abetos
não são hoje cardos?
E não pode a água fluir límpida
da boca do ventre?
Cessarem os sacrifícios de canários em minas de carvão?
Não basta o sangue de um só para lavar as suas entranhas?

Tirar o cinto que garroteia as nuvens
e retêm os mananciais na esponja e a luz
a rega precoce e tardia que fala e beija a terra
e alimenta com a profecia os chacais e as avestruzes
as bestas selvagens do ermo?

Vamos, filhos do Rei, que não é a hora de a rocha
emanar a lava, mas de estancar o vómito aos vulcões!
Manifestai a vossa glória de príncipes!
É a hora de plantar os lírios e colher o vetusto jardim
de deixar que os ossos enterrados sejam as raízes
da árvore da vida.
De rasgar no deserto a via por onde passarão os exércitos!
De fazer brotar o rio das ânsias de parto do pesadelo!

(27/05/08 Após ver o filme An inconvenient truth e correr a ler Paulo, Carta aos Romanos 8:19 “Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus.”)

domingo, maio 18, 2008

Look who's talking! Conversa com a minha filha de 3 meses e 3 semanas


Foi no sábado de manhã. Pousei o maxy cozy com a minha filha Caroline no banco traseiro do carro e passava-lhe o cinto de segurança à volta. Já antes tinha saído com ela, a levar a minha mulher ao trabalho, uma segunda vez, em visita a uma casa para comprar, e saíamos pela terceira, para uma reunião no nosso banco para tratar do pedido de crédito.
Prendia o cinto e…

– Papá, aonde vamos? Já é a terceira vez que me levas a passear esta manhã.
E como ela gosta de passear. Quantas vezes a chorar por ter sido posta mais uma vez naquela cadeirinha afinal ela não acha tão cozy assim, basta dar à chave, meter a primeira e pôr as rodas em movimento para se aquietar e adormecer!
– Vamos ao banco, filha.
– O que é banco?
– Um banco é um sítio onde vamos falar com uns senhores e pedir-lhes dinheiro.
– Aaahhh... E precisas de dinheiro, papá?
– Sim.
– Ah, isso é coisa dos grandes. Os grandes é que pensam muito em dinheiro. Acordam a pensar no dinheiro. Vão trabalhar e cansar-se fora por causa do dinheiro, adormecem a pensar em dinheiro, sonham com dinheiro. Ou nem chegam a dormir por causa do dinheiro. Preocupam-se muito com o dinheiro, se não o têm e o desejam ou se o têm em excesso e não sabem o que fazer com ele. Zangam-se uns com os outros por causa do dinheiro, casam-se e separam-se por causa do dinheiro. Matam e matam-se por causa dele. Deprimem-se por causa dele. Os grandes vivem para o dinheiro.
– Ah, sim, filha, pois…
– Nós, os pequeninos, não precisamos de dinheiro. Nem sabemos o que é. Temos mama e biberão, pegam-nos ao colo, dão-nos banho, mudam-nos a fralda e a roupa, limpam-nos o bolsado, levam-nos a passear, embalam-nos, abanam-nos, fazem aviação connosco, riem, enchem-nos de beijinhos e carinhos, sorriem, cantam, balbuciam para nós, imitam-nos e deliciam-se com o nosso "arrreee" e falam "bebesês" connosco. Acorrem a toda a velocidade quando choramos, às vezes mais tomados de aflição e desespero do que nós mesmos. Não precisamos de dinheiro.

Uma lição de sabedoria da minha filha de 3 meses e 3 semanas.

sexta-feira, maio 02, 2008

Don't cry, Maddie!



Completa-se um ano sobre o caso mais mediático de sempre no mundo de desaparecimento de uma criança. Toca-nos a nós, Portugueses, porque se passou em Portugal.
Não quero dar a minha opinião nem botar palpites nem sentenças sobre quem presuma ser o culpado, se houve assassinato acidental ou propositado, com desembaraço do corpo, ou rapto. Se os pais montaram um grande esquema para encobrir uma eventual culpa, ou se simplesmente moveram mundos e fundos na busca da sua filhinha, como se calhar casal de pais faria se pudesse. Nem se o arrastamento ou a não resolução deste caso interessa a alguém. Nem quero filosofar sobre a razão porque, dentre tantos milhares de crianças desaparecidas no mundo, inclusive em Portugal, teve este caso tão grandes atenções das autoridades policiais, da comunicação e da opinião pública. Agora que outros casos vamos conhecendo de abusos de crianças e adolescentes, por vezes pelos próprios pais (como o caso daquele senhor austríaco que sequestrou durante 24 anos e gerou filhos dela).

Quero apenas invocar a criança, o elo mais fraco. A quem ninguém perguntou nada, e isenta de malícia para ser cúmplice do seu próprio desaparecimento. Invoco apenas a sua memória, como símbolo da colheita demoníaca que é fazer mal a uma criança. Em qualquer parte do mundo. Porque delas, das tais crianças, simples de coração, ingénuas, prontas a acreditar no amor dos grandes, dependentes, rápidas a ser cruéis – é certo – mas também a perdoar e esquecer; ainda sem noção do bem e do mal – e por isso herdeiras, mais do que ninguém, do Reino de Deus. Essas crianças que, sentadas no seu colo e saltitando ao seu redor, Jesus abençoou (Marcos 10:13-16), e nestas todas as crianças do mundo, esperança do futuro.

E quero dizer-lhe – embora tenha noção que ela não lerá estas palavras: don't cry! Estas foram as únicas palavras que se me oferece dizer-te. O Senhor Deus é o teu criador. Ele diz que, mesmo que uma mãe possa esquecer o seu bebé e perder o amor ao filho que ela gerou, ele, o teu Criador, jamais te esquecerá. O teu retrato está gravado na palma das suas mãos (Isaías 49:15-16)! E sei que te fará justiça. Que possas sossegar, pois és habitante do seu Reino! Quem te fez mal, melhor lhe fora se pendurassem uma pedra de mó ao pescoço e o lançassem ao fundo do mar, a enfrentar a julgamento do Senhor (Mateus 18:6). Porque o Senhor tem memória.

E o que te digo não é apenas para ti – mas para todas as crianças do mundo.

sábado, março 22, 2008

Finalmente, a promoção!

A 28 de Maio do ano psssado, relatava aqui um milagre: uma porta aberta de um emprego.
Mal sabia eu que se tornaria um pesadelo, a grande prova, o quente, grande e pavoroso deserto (Deut 8), o calabouço de José.

Durante dias, semanas, meses a fio outra coisa não fiz senão desapertar botões de camisa, separá-las por cores para as lavar. Repetitivamente. Ganhei uma tendinite, dores nos dedos e pulsos, gretas nas mãos e pela seca de todo o dia manipular roupa suja.
A humilhação do chefe e do patrão que insistiram em me manter na função mais baixa na empresa (ainda que todos sejam pagos pela mesma tabela mínima), que jamais pagam e compensam acima do mínimo mas exigem sempre mais do que o máximo a toda a gente, e para quem os empregados são meros números e sempre devedores.
O sentimento de revolta, de não aceitação que tive de possuir e dominar, a sensação de ter sido esquecido por Deus e a incompreensão que a essa sensação dava.
As portas que continuavam a fechar-se.
O ambiente baixo, de linguagem ordinária, de maledicência.
A luta existencial, o sentido de falta de propósito, de ter perdido a noção de qual seria realmente a vocação da minha vida.
A luta interior, sacrificando em louvor a Deus mediante a apresentação da gratidão pela humilhação e provação, porque a fé provada é mais preciosa do que o ouro mais fino e porque a humilhação precede a exaltação. Fazia-o pela fé, decidido diariamente a crer nisso e confessando-o, a chamar à existência o que não existia como se já existisse, desprezando e passando além do que deveras sentia. Por vezes, acaba por dizer o que não devia e deveras sentia, e expressar desapontamento e frustração. Desilusão com Deus e com a vida.
E as portas – todas as portas – continuavam a fechar-se

Fazer o melhor, sempre, esforçar-me e a procurar na Palavra o ânimo, como se escavasse uma mina de ouro, persistentemente. Decidido a crer que a obediência precede a recompensa, que a fidelidade no pouco atrai a promoção ao muito. Que Deus efectivamente me colocara nessa provação e que só Ele, quando o entendesse, dela me livraria.

A manter a minha língua isenta de maledicência, de críticas ao chefe e ao patrão, mesmo quando ouvia e referia entre colegas as más atitudes de um e de outro, mesmo quando grande parte dos empregados (entre os quais eu) decidiu sindicalizar-se para melhor defender-se. Nunca ter saído da minha boca palavra de desonra.

Não sei dizer quantas vezes chorei, nem conto já os domingos, que deixaram de ser o cume almejado da semana, de ida à casa do Senhor e de comunhão com os irmãos, para serem a véspera de segunda-feira!

Na segunda semana de Fevereiro, ao cabo de sete meses (quando o Código do Procedimento Administrativo prescreve 30 dias) de espera, é-me finalmente dada razão no recurso à FCT que interpus face à recusa da bolsa de pós-doutoramento.

Veio a recompensa. Posso alegrar-me que a fidelidade no pouco produziu a recompensa de Deus.

GLÓRIA A DEUS!

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Ser pai…




Ser pai… humm…

A aventura de um pai em início de carreira.
Pegar nos braços, segurar a cabecinha para não tombar, mudar para o outro braço, falar com ela, rir para ela, elogiá-la com muitos diminutivos e palavras de doçura, chamá-la, mimá-la, profetizar para ela um grande futuro em Deus, enchê-la de beijinhos, acariciá-la, apreciar cada esgar facial, cada boquinha, cada beicinha, franzir de sobrolho, esboço de sorriso. Limpar-lhe os beiços quando bolsa, cheirá-la para saber se fez chichi e cocó, mudar-lhe a fralda, despi-la, dar-lhe banho, vesti-la, limpar-lhe o nariz e as orelhas com um cotonete molhado em soro.
Correr ansiosamente a cada um dos seus choros, pegar nela, pôr-lhe a chupeta, embalá-la nos braços, dar-lhe palmadinhas no traseiro, sentir-me impotente quando chora de cólicas. Rir quando dá umas flatutências e chamar-lhe "cagona!"
Ter de a dar à mãe quando penso que falhei em consolá-la, e ficar ciumento porque o cheiro da mãe e a promessa da mama da mãe a tranquiliza mais do que nada.
Dormir intermitentemente de noite com os seus ciclos de choro e sono.

Ter um coração que ama, que protege, que cuida, mas que ainda não definiu bem os sentimentos que tem, pois o meu ventre não a suportou. Mas um coração que está a descobrir, a aprender.

domingo, janeiro 27, 2008

Caroline Sophie n. 26/01/08 A filha da promessa




Nasceu a nossa filhinha querida. Às 23h25 locais (TMG +1) de sábado no Hôpital de Mont Saint Martin (Meurthe-et-Moselle, Lorena, França).
E todo o evento encerra um milagre e está marcado com a assinatura inconfundível do Senhor. Não um milagre como o da maravilhosa concepção biológica de cada ser humano, e moldado espiritualmente à imagem do seu Criador, como uma obra de arte única e irrepetível, de que fala o Salmo 139. Refiro-me a uma intervenção de Deus na forma como, no domínio natural, interveio na resolução de uma ou outra situação que requeriam tal intervenção, geriu sobrenaturalmente a agenda do evento e dos envolvidos (pais, avós, irmã), e o esvaziou de tensão e excessivas dores.



Em primeiro lugar, ela é linda! Perfeita! Carinha redondinha. Tão pacífica, quase só dorme, praticamente não chora, não reclama, reage bem. Só quando tem fome e frio, e mesmo assim um choro breve, que em poucos segundos cessa. E digo que é — dirão os leitores — como qualquer pai o diria de um filho ou filha. O juízo estaria viciado pelo interesse emocional envolvido. Talvez. Mas nem por isso deixa de ser linda.

Os primeiros exames pediátricos revelaram saúde.

Contarei as circunstâncias da concepção e nascimento. Quem leu a mensagem de 4 de Novembro de 2006 "De volta…" decerto se lembrará do relato que fiz da descoberta da gravidez da Cristina e do aborto às oito semanas, e o abalo que trouxe à esperança que tínhamos em ter uma menina. A Cristina fizera e consagrara votos antes do casamento por uma menina, eu próprio alimentara esse desejo no coração durante anos, mesmo antes de conhecer a mulher com quem me casei.

Todavia, a promessa de Deus foi mantida.

Consumou-se a nova gravidez, dura, preenchida de dores e desgaste físico, de azia, problemas de circulação, noites de ansiedade e insónia.
Entre os dias 18 e 27 de Janeiro, decorreu no Luxemburgo uma conferência de cura, organizada por três igrejas (lusófona, anglófona e francófona), com o evangelista Billy Smith, em que testemunhámos a confirmação de que ainda hoje Deus cura em nome do Seu Filho Jesus em resposta à fé (eu próprio senti alívio instantâneo de dores nas mãos). Numa das noites (quinta 24) o servo de Deus orou a favor de uma senhora grávida, no fim do tempo tal como a Cristina, por um parto de menos de três horas. Senti-me desafiado por essa oração e pelo testemunho de provisão financeira em momento de grande necessidade na vida de outro irmão, e a minha oferta dessa noite foi semente na esperança de um parto normal, rápido e reduzido ao mínimo de dor para a Cristina. Os meus pais pediam a Deus uma hora pequena para a Cristina, e meditaram no Salmo 100. Na quarta 24 os meus sogros vieram da Alemanha passar uns dias connosco. Eu e a minha sogra andávamos a tentar convencer a Cristina uma noite à conferência. Na noite de sexta, a Cristina, que de maneira nenhuma queria sequer sair de casa, achava-se melhor, pois tinha dormido toda a tarde, sentia-se fisicamente menos dorida, e finalmente manifestou ela própria a vontade de ir à conferência. Nessa noite, o irmão Billy Smith fora dirigido a separar um momento para orar pelas crianças. Seria uma ocasião apropriada para a Eunice e para o nascituro.

Billy Smith impôs as mãos sobre o ventre da Cristina e denunciou a existência de um pequeno problema, que seria porém resolvido. A Cristina sentiu nesse momento o ventre rodar internamente. Num curso de preparação para o parto para futuros pais e mães que frequentávamos na maternidade, ficáramos a saber que umas posições melhores do que outras para o bebé. A melhor posição é aquela em que o bebé se apresenta de cabeça, mas mesmo esta tem variantes que tornam o parto mais ou menos rápido e fácil, tanto para a equipa médica e de parteiras como para a mãe e bebé. Depende de o dorso deste estar virado para um dos lados em relação ao corpo da mãe, esquerdo ou direito, interno ou externo. Ecografias haviam revelado que a Caroline se achava de cabeça para baixo, mas virada para o lado menos adequado. Esse era o pequeno problema revelado, e que percebi que ficava nesse momento solucionado. E o servo de Deus pediu às demais mulheres grávidas presentes na sala que impusessem as mãos e com ele intercedessem pelo mesmo motivo de dois dias antes: um parto de menos de três horas. E profetizou que a nossa menina seria filha da alegria.

No sábado a Cristina passou o fim da tarde com contracções regulares. Sacos no carro, e entrámos nas urgências pouco antes das 20h30. Às 20h42 estava ligada a um electrocardiógrafo, com as contracções e os ritmos cardíacos de mãe e filha monitorizadas. O colo do útero tinha um dedo de dilatação. Era certo que passaria lá a noite, mas incerto que o parto tivesse lugar.
Uma hora e um quarto depois, as contracções continuavam, com pequenos intervalos. Fizeram-lhe uma perfusão para provocar o parto e conduziram-na à respectiva sala. Acompanhei-a. Ela pediu a epidural, mas o colo do útero dilatou tão depressa que não houve tempo para chamar o anestesista. Por volta das 23h00 arrisquei:
— O parto será até às 23h30.
No meio das dores de um parto natural, nascia a Caroline às 23h25. Estava na posição certa para um parto absolutamente rápido e fácil, com o mínimo de dor e complicações. Tranquila, sem um queixume, sem parecer estranhar coisa alguma, dir-se-ia que colabarova conscientemente em todo o processo. Pude terminar o seu primeiro banho. Orar por ela, impor-lhe as mãos e abençoá-la, sossegá-la com o som da minha voz a cantar palavras de amor, de elogio à sua doçura e de louvor a Deus.

Foi o melhor dos partos por que a Cristina passou. Após uma gravidez dura, três outros partos e dois abortos. Anteriormente, fora cortada, rasgada, submetida uma vez a cesariana, passara horas a fio de intenso sofrimento. Desta feita, perdeu demasiado sangue após o nascimento, para se lhe poder retirar a placenta, o que ocasionou quebra dos níveis de glóbulos vermelhos e, consequentemente, anemia. Não sendo porém caso extremo a ponto de receber transfusão sanguínea, uma dieta adequada e comprimidos de ferro promoverão o devido restabelecimento. E foi apenas isso. Uma hora e meia de trabalho parto propriamente dito e, desde a entrada na maternidade, cerca de duas horas e três quartos. MENOS DE TRÊS HORAS!

O bom Deus assim cumpriu. Sem acrescentar dor. E a visita dos avós maternos foi presenteada com o conhecimento da neta. Agora, estão cá os outros avós, os paternos. Todas as circunstâncias foram dirigidas e bem encaixadas pelo Mestre escultor e Senhor das nossas vidas.

Começou uma aventura…