sábado, março 22, 2008

Finalmente, a promoção!

A 28 de Maio do ano psssado, relatava aqui um milagre: uma porta aberta de um emprego.
Mal sabia eu que se tornaria um pesadelo, a grande prova, o quente, grande e pavoroso deserto (Deut 8), o calabouço de José.

Durante dias, semanas, meses a fio outra coisa não fiz senão desapertar botões de camisa, separá-las por cores para as lavar. Repetitivamente. Ganhei uma tendinite, dores nos dedos e pulsos, gretas nas mãos e pela seca de todo o dia manipular roupa suja.
A humilhação do chefe e do patrão que insistiram em me manter na função mais baixa na empresa (ainda que todos sejam pagos pela mesma tabela mínima), que jamais pagam e compensam acima do mínimo mas exigem sempre mais do que o máximo a toda a gente, e para quem os empregados são meros números e sempre devedores.
O sentimento de revolta, de não aceitação que tive de possuir e dominar, a sensação de ter sido esquecido por Deus e a incompreensão que a essa sensação dava.
As portas que continuavam a fechar-se.
O ambiente baixo, de linguagem ordinária, de maledicência.
A luta existencial, o sentido de falta de propósito, de ter perdido a noção de qual seria realmente a vocação da minha vida.
A luta interior, sacrificando em louvor a Deus mediante a apresentação da gratidão pela humilhação e provação, porque a fé provada é mais preciosa do que o ouro mais fino e porque a humilhação precede a exaltação. Fazia-o pela fé, decidido diariamente a crer nisso e confessando-o, a chamar à existência o que não existia como se já existisse, desprezando e passando além do que deveras sentia. Por vezes, acaba por dizer o que não devia e deveras sentia, e expressar desapontamento e frustração. Desilusão com Deus e com a vida.
E as portas – todas as portas – continuavam a fechar-se

Fazer o melhor, sempre, esforçar-me e a procurar na Palavra o ânimo, como se escavasse uma mina de ouro, persistentemente. Decidido a crer que a obediência precede a recompensa, que a fidelidade no pouco atrai a promoção ao muito. Que Deus efectivamente me colocara nessa provação e que só Ele, quando o entendesse, dela me livraria.

A manter a minha língua isenta de maledicência, de críticas ao chefe e ao patrão, mesmo quando ouvia e referia entre colegas as más atitudes de um e de outro, mesmo quando grande parte dos empregados (entre os quais eu) decidiu sindicalizar-se para melhor defender-se. Nunca ter saído da minha boca palavra de desonra.

Não sei dizer quantas vezes chorei, nem conto já os domingos, que deixaram de ser o cume almejado da semana, de ida à casa do Senhor e de comunhão com os irmãos, para serem a véspera de segunda-feira!

Na segunda semana de Fevereiro, ao cabo de sete meses (quando o Código do Procedimento Administrativo prescreve 30 dias) de espera, é-me finalmente dada razão no recurso à FCT que interpus face à recusa da bolsa de pós-doutoramento.

Veio a recompensa. Posso alegrar-me que a fidelidade no pouco produziu a recompensa de Deus.

GLÓRIA A DEUS!