terça-feira, janeiro 24, 2006

Novo Presidente da República

Chegou ao termo o processo de campanha e eleições presidenciais. Ganhou o candidato esperado por muitos, e indesejado por outros.
Para as esquerdas, que com a ferocidade de cães famintos se lançaram Cavaco Silva, sucedeu o horror de ver o candidato do centro e da direita vencer, facto que sucedeu pela primeira vez em democracia. O espectáculo a que se assistia era tal que, para as esquerdas, é como se a democracia se esgotasse, como se fosse património seu e como se a vitória de Cavaco Silva fosse uma espécie de pecado original, e fatal.
Não será normal a alternância?

No tempo em que Cavaco Silva era primeiro-ministro, eu era de esquerda. Abominava o estilo de democracia musculada. Mais tarde, mudei de perspectiva. Considero-me um conservador. E pude notar mudança nas atitudes de Cavaco Silva, que indicia possível e efectiva mudança no temeperamento. Parece um homem mais humano, mais brando e tranquilo. Mais humilde. A derrota que sofreu há 10 anos face a Jorge Sampaio, a travessia no deserto entretanto percorrida podem ter provocado o amadurecimento do carácter. Ao contrário de Mário Soares, que apareceu com o ímpeto que tanto censurou em Cavaco, o do herói salvífico, do rei legítimo que regressa da guerra, em entrade de leão, para salvar o país do desânimo. Creio que a diferença de atitudes foi crucial para os resultados: um, com uma agenda própria, os outros, contra Cavaco e a direita. E os cidadãos eleitores preferiram quem não criticou, nem atacou os outros. Soares teve um sgundo mandato censurável: fez-se líder da oposição e só descansou quando deu posse a um governo do seu partido, na pessoa de António Guterres. Mas Cavaco não foi por aí. Limitou-se a falar do que pensava, mesmo que, segundo alguns, nada tivesse dito de substancial.

Quanto aos candidatos de esquerda, entendo ser de saudar Manuel Alegre, pelas suas qualidades como poeta, e também pela combatividade como político. E porque me parece ser pessoa transparente.

Nota dissonante da noite foi o discurso do Primeiro-ministro no momento preciso em que falava Manuel Alegre. Pareceu ser calculado. São de anos, e repetidas, as incompatibilidades entre Alegre e José Sócrates. Poderão os responsáveis do PS desdizê-lo, mas é coincidência a mais. Sócrates comporta-se, desde que é Primeiro-Ministro, como o velho Cavaco. E o cúmulo foi a subserviência de todas as televisões, e não apenas da pública, em relação ao Primeiro-Ministro, desprezando ouvir um dos candidatos. Prioridades e editoriais — justificarão talvez. Mas fica a vergonha.

1 comentário:

Vitor Mota disse...

Na mesma linha do que também penso. Os anos realmente dão experiência e também humildade. Quando assim não é, algo está mal.