segunda-feira, junho 15, 2009

O ALTAR DE ALMOFADA 2 – A PEDRA E AS ESCADAS

Embora aterrado com a visão – tão cheia de luz e fogo, e a voz de Deus, mais forte do que o trovão, som de muitas águas, mas nítida – a palavra que Deus lhe dera era o bastante para o tranquilizar. Percebia que essa palavra merecia a confiança.
Sabia que o sonho lhe fora dado pelo Deus de seu pai e avô. Entendera que lhe falara, que tivera o privilégio de Ele se lhe revelar. E confirmava que a promessa da multiplicação das gerações da linhagem de Abraão lhe era agora transmitida, incontáveis como as estrelas do céu e o pó da terra. E que esse Deus estaria com Ele, e que havia comunicação entre o céu e a terra, que os anjos de Deus seriam com ele para o guardar e lhe trazer a bênção do céu, em obediência à voz do Senhor. Sim, a promessa era também para ele, não apenas por ser da linhagem de Abraão. Deus falara com Jacob, e não com o neto de Abraão. Havia umas escadas entre ele e Deus. Do alto das escadas Deus falava-lhe, como falara com Abraão. Ouvira e ouviria Deus, como Abraão. Com ele Deus fizera uma aliança, a mesma que fizera com Abraão. Conhecia agora Deus pessoalmente, e não apenas por ouvir o avô e o pai falarem dele. Abraão fora conhecido como o amigo de Deus. Também com ele tinha Deus firmado essa relação íntima.
Sabia que a promessa de Deus à linhagem de Abraão era para uma terra deleitosa, e essa terra fora claramente apontada. Mas uma coisa não sabia:
– Não sabia que também nesta terra Deus está.
Sim, a promessa era Canaã. Essa era a herança. Mas percebia que o Deus dos seus antepassados e seu Deus era Senhor também de outras terras. Daquela terra. Da terra que era por ora o seu destino, Haran. Também aí o seu Deus seria com ele, e dirigiria os seus passos, e seria o seu conselheiro, e o protegeria, e lhe daria uma jovem e linda mulher, a quem amasse, e que o amasse e lhe desse muitos filhos e filhas. Aí o abençoaria.

Era costume entre os povos tomar pedras e fazer delas um marco da consagração de um voto aos seus deuses. Às promessas do Deus e de seu pai e avô e agora igualmente seu Deus respondeu Jacob com votos: entregar-Lhe-ia o dízimo de todos os bens que lhe fossem dados segundo essas promessas. Tomou ele também a sua pedra e consagrou-a como memorial ao Deus da aliança acabada de concertar. E conforme o costume, chamou à pedra, e ao lugar em que a achara, Casa de Deus. Como sinal último da aliança, ungiu a pedra com um pouco de azeite, que representa a presença de Deus. Sempre que ele ou seus filhos por ali passassem lembrar-se-iam da aliança de Deus com Jacob e reafirmá-la-iam em seus corações, voltando-se de novo para ela.
O olhar não sondou em redor nem a mente se questionou. A pedra que a mão tomou foi a que lhe serviu de almofada. Essa era a sua Bethel, a sua Casa de Deus.

Lembrara-se: o seu avô Abraão sacrificara e selara aliança com o seu Deus por ali. Então o Senhor já chamara para si havia muito aquela terra. A Abraão e à sua linhagem prometera um território da ribeira do Egipto até ao rio Eufrates. Aquela terra fazia parte da promessa. E Deus disse-lhe que lha dava. Ali plantara erva para os seus gados, ali abrira caminhos para as suas caravanas e mercancias. Ali construiriam cidades e plantariam e cultivariam cereais e árvores de fruto. Que lhe dissera Deus? Os seus filhos e netos estender-se-iam para todos os pontos cardeais. A estrada para Haran era igualmente herança para os seus filhos e netos. E Haran. E toda a terra.
Como poderia ter-se esquecido disso: que Deus também estava ali?

1 comentário:

Tinoca Laroca disse...

Fantástico não é?
O que acho mais fantástico ainda é que o seu nome foi mudado para Israel.
Porque Jacob era sinónimo de enganador.
às vezes discriminamos alguém por ter o hábito de enganar, e, não trabalhamos para a mudança da pessoa.
mas Deus olha para o coração.
E muda até a identidade pela qual o pecador é conhecido.
Nestes últimos dias tenho pensado bastante nisto, pois sempre tive muita dificuldade em lidar com "aldrabões".

God bless you,
T.