— Se não se pronuncia, não se escreve.
Se me apresso a explicar-lhes o valor diacrítico das consoantes ditas mudas no Português Europeu, a abertura da vogal átona precedente, ou as incongruências de se eliminarem os "p" de "recepção", "decepção", "concepção", "conceptual", "espectador" em Portugal, que se mantêm no Brasil, o que viola o próprio espírito unificador do AO90, além de reconhecidamente induzir à alteração da pronúncia da vogal precedente, no sentido do emudecimento, em vez de manterem a abertura da vogal precedente, donde:
- "receção" se pronunciará (como reconhece D'Silvas Filho, um ferrenho adepto do AO90, no portal ciberduvidas) como "recessão";
— "deceção" como "dec'ção";
— "conceção" como "concessão" (ou "conç'ssão"); -
— "concetual" como "conç'tual"
— "espetador" como "esp'tador", passando a confundir-se com o nome deverbativo de agente do verbo "epetar", designando aquele que coloca um espeto, que espeta alguma coisa;
Não demoram a espetar-me outro dedo no outro olho, pois não podia este ficar a rir-se de ver o seu gémeo espetado:
— Foi decidido entre países que falam português e o governo mandou aplicar, logo temos de aplicar. Queres ser despedido?
E pronto. Viva a áurea mediania acordista (não a horaciana). E viva este novo século luso, em que antes podia perceber apenas de finanças, electricidade ou sonoplastia, mas agora, já têm equivalência a linguística, ciência filológica e literatura, adquirida sem necessidade de certificado à pala deste AO90! E melhor — ao espetarem os dedos nos olhos deste pobre que nada sabe de finanças, electricidade ou sonoplastia mas conhece alguma coisas de linguística, ciência filológica e literatura, adquirem, sem esforço, sem estudo, sem experiência, e sem processos de equivalências, o supremo e mais cobiçado dos diplomas: um Doutoramento como Espetadores.
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