“Rute foi então para os campos e pôs-se a apanhar as espigas que os ceifeiros deixavam ficar”
Rute 2:3
colhe
com os olhos que tem nas mãos
o que outros deixam ficar
ou não vêem colhe espigas soltas
como pontas de novelos
é o cuidado dos bicos longos
do flamingo posto nos dedos
Rute sabe que colhe
onde não semeou
nos campos de Booz
sabe que colhe o pão que
lhe disseminará na mesa de cada dia
mas não sabe que nesse gesto
de ceifeira pobre semeia
brasas de sol
em outros olhos que têm mãos
29/10/11
Nova vida, abundante vida, tudo quanto pode proporcionar um encontro pessoal e radical com uma pessoa especial. A contracultura da nova criação, em Jesus Cristo. N.B.: Este blog está em desacordo com o chamado novo acordo ortográfico de 1990.
segunda-feira, outubro 31, 2011
quinta-feira, outubro 27, 2011
MADRUGADA
“O que precisa nascer
aparece no sonho buscando
frinchas no teto”
Adélia Prado, “Alvará de demolição”
O que precisa nascer
faz no tecto o soalho
e abre frinchas onde colocámos
os pensamentos
pois sobre as nossas cabeças
jaz um chão
de pedra ou magma
onde busca a água
e possui os minerais
desse chão nocturno de folhas
fissuradas do sonho
se levantam os ramos
do inalcançável
é lá que flutuam
as aves
27/10/11
quinta-feira, outubro 20, 2011
EXTENSÃO
“…para amar queria a terra toda, para morrer bastam-me os flancos do silêncio”
Eugénio de Andrade, “Seja isto dito assim” (Memória doutro rio)
para navegar
toda a água é oceano
e o astrolábio é navio
para cantar todo o corpo
é peito e fornalha na voz
se quero rir tiro a máscara antiga
se quero sonhar estendo o coração
para lá das ruínas
para morrer tão pouco me basta
que os olhos se calem sobre o teu flanco
para te amar uma ilha é ainda pouco
só me chega a terra toda
09/10/11
Eugénio de Andrade, “Seja isto dito assim” (Memória doutro rio)
para navegar
toda a água é oceano
e o astrolábio é navio
para cantar todo o corpo
é peito e fornalha na voz
se quero rir tiro a máscara antiga
se quero sonhar estendo o coração
para lá das ruínas
para morrer tão pouco me basta
que os olhos se calem sobre o teu flanco
para te amar uma ilha é ainda pouco
só me chega a terra toda
09/10/11
QUANDO SAÍRES DE ÍTACA
Quando saíres de Ítaca, Ulisses,
os cavalos deixarão Ítaca
vão todos contigo para um único galope
na ágora de Ílion
vão todos, as suas crinas cinza
ondulam na vibração da cabeleira
de Posídon
ficará Ítaca despovoada
de cavalos
e cavaleiros, nem os navios
desfilarão nas avenidas
marítimas da cidade
ao partires de Ítaca,
restará apenas
o fio tenso
do arco e do tear
o fio denso
do horizonte
que a tua mão traçará
estendida de um extremo
ao outro do mar
sem cavalos, ficarão em Ítaca
apenas homens a pé
soldados de infantaria
sem general
15/10/11
os cavalos deixarão Ítaca
vão todos contigo para um único galope
na ágora de Ílion
vão todos, as suas crinas cinza
ondulam na vibração da cabeleira
de Posídon
ficará Ítaca despovoada
de cavalos
e cavaleiros, nem os navios
desfilarão nas avenidas
marítimas da cidade
ao partires de Ítaca,
restará apenas
o fio tenso
do arco e do tear
o fio denso
do horizonte
que a tua mão traçará
estendida de um extremo
ao outro do mar
sem cavalos, ficarão em Ítaca
apenas homens a pé
soldados de infantaria
sem general
15/10/11
sábado, outubro 01, 2011
DA MATÉRIA DO POEMA
“Subi ao alto, à minha Torre esguia,
Feita de fumo, névoas e luar”
Florbela Espanca, “Torre de névoa”
o meu poema não habita
em torres de névoa não há espera matinal
por D. Sebastião
morreram todos eles para sempre
e os seus corpos secaram
nos dentes dos chacais
em Alcácer-Quibir
no meu poema não ardem baixo os luares
sobre as águas
no meu poema há só o sol a prumo
não há Ítacas, Társis nem Índias
de fuga ou nostalgia
há a amplidão nítida dos rios
que duma mão nascem e na outra desaguam
no meu poema há a outra margem
uma terra toda inteira
ainda sem nome nem padrão
de descoberta
30/09/11
Feita de fumo, névoas e luar”
Florbela Espanca, “Torre de névoa”
o meu poema não habita
em torres de névoa não há espera matinal
por D. Sebastião
morreram todos eles para sempre
e os seus corpos secaram
nos dentes dos chacais
em Alcácer-Quibir
no meu poema não ardem baixo os luares
sobre as águas
no meu poema há só o sol a prumo
não há Ítacas, Társis nem Índias
de fuga ou nostalgia
há a amplidão nítida dos rios
que duma mão nascem e na outra desaguam
no meu poema há a outra margem
uma terra toda inteira
ainda sem nome nem padrão
de descoberta
30/09/11
FUTURO PERFEITO
“Cantar
é empurrar o tempo ao encontro das cidades futuras”
Carlos de Oliveira
se cantamos
cortamos a vida
deixamos para trás
o rasto de nós
perdemos ao longo da terra
as lágrimas
o que perdido estava
deixámo-lo ir na corrente
para onde escorriam os nossos olhos
tínhamos um encontro ali
marcado com as cidades futuras
para isso empurrámos o tempo
e arrancámos o espaço
no coração em sangue
nos lábios ainda tenros
cantar
é percorrer ruas
ainda por abrir
25/09/11
é empurrar o tempo ao encontro das cidades futuras”
Carlos de Oliveira
se cantamos
cortamos a vida
deixamos para trás
o rasto de nós
perdemos ao longo da terra
as lágrimas
o que perdido estava
deixámo-lo ir na corrente
para onde escorriam os nossos olhos
tínhamos um encontro ali
marcado com as cidades futuras
para isso empurrámos o tempo
e arrancámos o espaço
no coração em sangue
nos lábios ainda tenros
cantar
é percorrer ruas
ainda por abrir
25/09/11
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