“Und wo wir Zukunft sehn, dort sieht es Alles
und sich is Allem und geheilt für immer”
“E onde nós vemos futuro vê ele Tudo
e a si no Todo e salvo para sempre”
Rainer Maria Rilke, in Elegias de Duíno 8 (original e tradução de Maria Teresa Dias Furtado, Assírio & Alvim)
Não queria sair do Paraíso. Por isso
quis ver Tudo da copa da árvore.
quis ser mais alto e sobretudo permanecer
caso me faltasse a mão para abarcar toda
a visão, todo o espaço do Jardim feito concha
pelos rios que correm sem nascente nem foz.
Ausente da brisa do crepúsculo,
que é o Teu rosto dado de frente
escolhi um vento com aroma
de um fruto dando de lado.
Há uma dor em mim que é a da aproximação,
quanto mais me chego a Ti mais me dói.
Ser ausente do que vi em Ti,
que vês Tudo, que és salvo em Ti
e eu em Ti nos Teus olhos
de sangue de animal manso.
Escolhi outro crepúsculo
um sol caído em outros olhos,
olhos de aproximação da cobiça
da vida ignorante de quão espesso
é o seu vazio, de que olhar
os rios do Paraíso, que são
a Tua presença,
é ver-Te ausentando-Te
e eu neles para longe
fluindo sem nascente nem foz.
Não queria sair do Paraíso mas possuí-lo,
não me chegava esta mulher que
me deste, só o ver-me Tudo
mais asa do que anjo
mais sabor do que fruto.
Mas foi ainda nas águas dos rios,
que são o que me resta do passado,
que vejo o futuro.
Rui Miguel Duarte
18/06/15
Originalmente publicado em Salmo Presente
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