sábado, janeiro 10, 2009

Esmeralda…


Foi dada a sentença final ao caso Esmeralda, que tanto atraiu, entusiasmou e dividiu a opinião pública. A favor do pai "biológico", confirmando sentença já com quase cinco anos.
Confesso que fui daqueles que, desde o início, teve simpatia pela casal de pais "adoptivos". Acolher uma criança abandonada pelos progenitores, recebê-la como sua, dar-lhe uma casa e cuidados parentais é em si mesmo um acto cuja dignidade e beleza dispensam encómio. O pai "biológico" aparecia aos olhos da opinião pública como um daqueles homens que conhecem uma gaja, dão-lhe uma queca sem protecção e que mal o sol nasce dão às de vila-Diogo. A mãe "biológica", uma daquelas mulheres sexualmente emancipadas, que não rejeitam uma noite de prazer quando as hormonas fervem. E uma gravidez surge, consequência indesejada de uma noite de libertinagem. Como uma cárie em quem exagera nos doces. Por causa disso, há quem aborte!
A imagem transmitida era grosso modo esta. Maniqueísta quanto baste. De um lado os bons e generosos, do outro os maus.
Os pais "adoptivos" cometeram rapto da criança, para não terem de cumprir uma sentença que determinava a entrega da menina ao pai "biológico" . Mesmo assim, tal acto suscitou onda de simpatia.
Mas uma ideia começou a ver à minha mente: não teria o pai "biológico" o direito ao arrependimento? Como todo o ser humano? Se de início duvidava da paternidade (a mãe biológica, afinal, prostituía-se), ou não a desejava assumir, não mereceria a oportunidade de mudar de ideia, não poderia o seu coração ter-se deixado apoderar pelo sentimento de paternidade? Lutar pela custódia da filha, com unhas e dentes, fazer o legalmente possível e impossível para reconquistar o afecto da filha seriam a tradução de uma reviravolta interior. E dignas de compreensão, quando não de solidariedade. E os pais "adoptivos" insistiam, praticaram rapto, insistiam, possessivos, em reclamar para si a custódia, o que também não deixa de ser compreensível, pois tinham ganho afecto à menina. E o processo arrastou-se.
Presentemente, pois, tenho outra visão do caso. Já não o vejo a preto e branco. E considero a sentença agora exarada como justa, sensata e equilibrada. O pai "biológico", que com toda a certeza aprendeu a amar a filha, é quem fica com ela. Como deve ser. E prevê-se um regime de visitar por parte da família "adoptiva". Esta não fica de todo desligada da história da vida da menina, porque fará para sempre parte dela. E será bom que continue a fazê-lo, e não apenas na memória da mais remota infância, mas como numa relação com outros "pais". E o suposto trauma da mudança de família, de nome e de referências, do constante stress que a indefinição do seu destino lhe causaria, tudo isso será atenuado. Mesmo porque a criança terá acompanhamento psicológico.

All's well that ends well.

2 comentários:

ana disse...

Obrigado pela lucidez do Post. Ontem vi o "debate" na SIC e fiquei desapontada com o Sr. Villas Lobos, a perfeita personificação do maniqueismo.

Anónimo disse...

A situação não é fácil de decidir.

De resto, ao analisar o teu post, vejo espelhada a situação dos pais, não a da filha.

Porque no meio de tudo isto a criança é vista como objecto de pertença e portanto pertence àquele que afinal a "criou" bioligamente: sem o sémen do pai não haveria discussão pública.

ainda trazemos nos nossos genes a raíz histórica da criança como objecto de possessão.

Quem tem o saber tem o poder.

E a criança é que menos sabe pela sua imaturidade biologica e funcional.

Que seja protegida, emocional e intelectualmente, é o que oro.

God bless you,
T.