"Para ele nascer morri"
Almeida Garrett
Doem-me as mágoas dos homens
os seus dolos ardem-me as têmporas
dos homens nascidos para a morte
a massa do mundo pesa-me
por dentro do ferro
por vós homens, que tendes a transgressão
por norma. Quem entendeu
o que cantava a cítara antiga,
quem entendeu a subida ao monte
em que a faca encontra
rente ao sangue o cordeiro
do silêncio? Quem entendeu
o protesto do profeta até aos abismos?
Para nascerdes é que eu morri
para que o Sol vos risse
é que as Estrelas choraram
Rui Miguel Duarte
25/03/16
Nova vida, abundante vida, tudo quanto pode proporcionar um encontro pessoal e radical com uma pessoa especial. A contracultura da nova criação, em Jesus Cristo. N.B.: Este blog está em desacordo com o chamado novo acordo ortográfico de 1990.
sábado, março 26, 2016
quinta-feira, março 17, 2016
EPITÁFIO
"C'était
la Mort! Alors il la pria d'attendre
Qu'il
eût posé le point à son dernier sonnet!"
Do "Epitaphe" de Gérard de Nerval
(1808-1855)
Um dia chegou por trás da
cortina
insinuou-se pediu um cálice
de vinho
o último e melhor — disse —
que o melhor
é sempre o do fim. Bebeu de
mansinho.
Veio colhê-lo desapercebido
como uma flor
ainda no pico da cor da
essência mais fina.
Escrevia. Explicava às Musas
onde colocar
o ponto final do último poema
a entregar
ao sonho, que fosse a
lágrima ainda quente
do bronze mais perene, que
diga a glória ausente
do poeta. Ele deitou-se:
veio colhê-lo pela fronte,
embalsamou-lhe as mãos para
não mais escrever
e os olhos para não mais
ver. Esbate-se um horizonte
sempre que um poema acaba e
um poeta se cala.
Mas lá continuava o visitante
a beber.
O poeta lhe disse: espera
sentado, podes ficar a fazer sala.
Rui Miguel Duarte
11/03/2016
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