Há quem siga os rios até ao mar
eu sigo os mares até a um rio
nele flutuam os meus olhos
que à força de flutuar
são um navio
que as ondas aclamam ao passar
pelos mares que dão para um rio
pelos rios que dão para um mar
vai partir como a sombra o meu amor
vai num navio sem vela
olhos sem as pestanas dos remos
corpo sem braços que o levem,
confiado apenas no rumo
que as águas os lemes escrevem
águas de rios águas de mares
eu sigo os mares até a um rio
que à força de tanto flutuar
as duas águas os meus olhos submergem
são um navio que à força de tanto navegar
são um roaz de bandeira
assim sigo para terra até de rios
não restar senão uma ribeira
a ribeira das naus o estuário
em que a terra acaba
o palácio em que dorme
a falua e o meu coração desaba
esta é a ponte
entre o mar que se torna rio
e em que o rio deixa de ser mar
ponte são os olhos do meu amor
que à força de tanto o olhar
espelhados em milhões
de centelhas no Tejo
arriba nele o meu navegar
Rui Miguel Duarte
27/08/2015