segunda-feira, março 16, 2009

Dedicado ao mais celebrado mestre da eloquência de sempre




Demóstenes

Tu não sabes, mas os seixos moldaram-te
Nas praias da Ática
À beira do abandono lançaste o manto à areia
mas o vento elevou-o à altura das fragas
à tua voz e ao teu espírito

Daí o trovão fala às velas
o vento ecoa a elegância do pregão
aquele que faz o povo recobrar a força,
Demóstenes
e Atenas navega
para o porto da liberdade

Espírito e voz moldados
As gerações que se te seguirem
serão mais gagas do que tu
e contigo quererão aprender
na escola, não na vida
a voz e o espírito
o pulmão e o coração
a força e a elegância
a escolha do ritmo e do vocábulo
o relâmpago do raciocínio
e o trovão da paixão
imitarão a tua arte
honrar-te-ão como o mestre perfeito
da invenção, da ordem dos elementos, da beleza e da declamação
citarão os teus incisos, períodos e orações
decalcarão e jurarão sobre a tua eloquência
aspirarão à tua Coroa

Sem seixos, sem praia, sem fragas
sem o fogo e o vento a falarem às entranhas da cidade
sem a neblina propínqua da servidão
o espectro opaco da Macedónia

Quem tiver uma causa uma voz e um espírito e uma palavra
escutar-te-á
e de novo o teu espírito soprará e a tua voz de pedras rugirá

2 comentários:

J.T.Parreira disse...

«Quem tiver uma causa uma voz e um espírito e uma palavra
escutar-te-á
e de novo o teu espírito soprará e a tua voz de pedras rugirá». Gostei do texto e registo a necessidade de vozes que clamem no deserto. E os nossos desertos hoje, estão nas mentes e nas «pedras» da floresta urbana.
#
Quanto à questão que levantaste sobre o «meu» Salmo 121, responderei com gosto nos Papéis...

Um abraço amigo,
João

Tinoca Laroca disse...

Lindo...

God bless you,
T.