sábado, setembro 27, 2008

Lisboa revisitada (2008)




Tinha saudades tuas, Lisboa da minha infância e adolescência
Da Lisboa de outrora de hoje, do manto de céu de rainha
Das colinas do império e dos Mouros e Judeus
Da macieza do Tejo mudo e dorido de naus cacilheiros e sonhos lançados às águas
E de tudo

Do mistério de teres sido minha mãe e de eu ser teu filho pródigo
Te revejo e a ti regresso breve
Eu, sim, o mesmo que volta à mesma cidade? Outro sou, e mesmo
E tu, sempre Lisboa. Continuas a dar à luz filhos e filhas, a receber outros adoptivos
Em ti há mais árvores, mais floresta, mais galerias de toupeira.
Formigas que vão e vêm, de todos os solos, pétalas multicolores
Mas sempre o mesmo moroso estar e não estar com um café e uma imperial
O fluxo alucinado do trânsito
E o Tejo quieto e mudo
Que me dá o seu abraço e me saúda, filho de visita
E me dá as boas-vindas – e eis-me reconciliado com o fio-memória
Que me liga a mim mesmo
E ao Cristo Rei, a quem hoje sirvo
Abraço nocturno – porque à noite é mais belo, como xaile negro de fadista

Lisboa de mágoas e amor, de correrias e demoras
De museus e história
Embora novos prédios se ergam eucaliptos, novas estradas te sulquem a pele
E novas linhas de metro te perfurem a carne,
Se possa matar apetite e tédio em novos restaurantes

Novos gestos, vestes e adereços no cabelo
Que eu não conhecia
És a Lisboa de cujos seios me nutri,
Folgazão e estudante
Em bebedeiras e paixão,
Em cujo horizonte de mundo desenhei o porto da minha navegação
Exibes ainda a mesma nostálgica majestade nas praças e avenidas
Cingida de ouro do céu e de prata do Tejo
Que revejo, com um sorriso.

Quando voltar a Portugal, é a ti, Lisboa, que voltarei.