Há pessoas que são como planetas que só conhecem movimentos de rotação: entra dia e sai dia e o mundo delas revolve-se num entediante movimento centrípeto, sempre e somente em torno de si próprias. Pessoas egoístas, possessivas, excessivamente centradas em si próprias e nos seus interesses, não existem realmente. Não conseguem sair delas próprias. São como rosas que nunca abrem, fontes que nunca nascem, estrelas que nunca brilham. Não participam das mil e uma vidas que existem fora delas – mais, para elas não existem outras vidas, só a sua.
Existir, ex-sistere, implica sair de si próprio! E o maior êxodo é aquele que é feito para fora de si mesmo.
Sair de si próprio provoca um descentramento. O centro geométrico muda à medida que o outro começa a ocupar a sua atenção: começa a dar-se, a repartir-se, a semear-se nos outros. O grão de trigo, se não morrer fica só; mas se morrer, se sair de si próprio, passa a existir como pão que alimenta
Sair de si próprio implica arriscar – arriscar-se a sair para um mundo-outro onde nada é costumeiro, habitual, familiar. Enquanto permanecer no útero em que foi concebido – esse seu habitat natural em que a vida se foi desenrolando – nunca conhecerá outros desafios e novas dimensões de vida. As novas harmonias já foram dissonâncias; as novas descobertas já foram impossibilidades; as novas ideias já foram silêncios; o romance e a poesia já foram páginas em branco. Há que arriscar!
Sair de si próprio faz aumentar o horizonte de esperança. A vida deixa de estar limitada aos nossos poucos recursos e à nossa pequena dimensão. O nosso horizonte de esperança aumenta ao percebermos que existem outras ideias, outros dons, outros contributos, outros sonhos que fazem o mundo avançar e pular.
O maior desafio da vida é existir.
Texto de Luís Melancia
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