Que encolhes, Lua
— dizem —
que quanta eras cessaste
de o ser
vêem-te estiolar
muito te pediram e tiraram,
Lua,
sob o teu candelabro se enlaçaram
os namorados, e juraram
que a eternidade
seria o prolongamento do beijo,
ó Lua alcoviteira
com o teu beneplácito de deusa
enlouqueceram os uivos dos lobos
as noites das aldeias,
e viram-se dos túmulos
redespertarem os mortos,
mas só nessas horas do teu reinado
efémero na noite, efémero
mas que deixava
nos ouvidos e nos olhos
o rumor do terror
que a aurora não dissipava,
ó Lua pantomineira
também te derramaste cheia
dentro do caldeirão da rainha bruxa
na preparação do molho agridoce
para embeber o pomo
que jugularia a vida de Branca de Neve,
ó Lua feiticeira
em ti requestaram inspiração
os poetas
com os teus segredos mancharam a folha
e organizaram a tinta,
ó Lua paroleira
a tua pele violentou
de um pequeno salto Neil Armstrong
sem que em ti achasse
nem no teu ventre gerasse
selenitas
filhos que te adornassem a velhice,
ó Lua solteira
tanto te pediram e extorquiram
estes terráqueos, mas sei triste
que nada te deram
que te não acalentaram
o coração
talvez por isso
arrefecida
— como dizem —
talvez por isso assim
desnudada
murches
21/08/10
A propósito de uma notícia segundo a qual a Lua está a encolher.
Sem comentários:
Enviar um comentário