segunda-feira, agosto 23, 2010

ODE LUNAR


Que encolhes, Lua

— dizem —

que quanta eras cessaste

de o ser

vêem-te estiolar


muito te pediram e tiraram,


Lua,


sob o teu candelabro se enlaçaram

os namorados, e juraram

que a eternidade

seria o prolongamento do beijo,


ó Lua alcoviteira


com o teu beneplácito de deusa

enlouqueceram os uivos dos lobos

as noites das aldeias,

e viram-se dos túmulos

redespertarem os mortos,

mas só nessas horas do teu reinado

efémero na noite, efémero

mas que deixava

nos ouvidos e nos olhos

o rumor do terror

que a aurora não dissipava,


ó Lua pantomineira


também te derramaste cheia

dentro do caldeirão da rainha bruxa

na preparação do molho agridoce

para embeber o pomo

que jugularia a vida de Branca de Neve,


ó Lua feiticeira


em ti requestaram inspiração

os poetas

com os teus segredos mancharam a folha

e organizaram a tinta,


ó Lua paroleira


a tua pele violentou

de um pequeno salto Neil Armstrong

sem que em ti achasse

nem no teu ventre gerasse

selenitas

filhos que te adornassem a velhice,


ó Lua solteira


tanto te pediram e extorquiram

estes terráqueos, mas sei triste

que nada te deram

que te não acalentaram

o coração


talvez por isso

arrefecida

— como dizem —

talvez por isso assim

desnudada

murches


21/08/10


A propósito de uma notícia segundo a qual a Lua está a encolher.

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