quarta-feira, dezembro 28, 2005

Escrito no dia de Natal, ao Festejado do Natal

Vieste na fragilidade
Palavra eterna, forte, graça e verdade
Feito carne.

Na fragilidade
De que somos carne e sangue
Articulação, osso e medula.

Sem majestade, sem coroa nem manto,
Sem luzes que ladeiem nem cortejos que acompanhem a tua passagem,
Sem a glória do Único Filho que exibisses de ti mesmo.

Uns te anunciaram e te esperavam
Oravam e jejuavam até que viesses,
No templo, no lugar da profecia,
Outros nos cálculos astronómicos, atentos ao rasto dos astros,
E na maturidade das eras denunciando os sinais,
Com anseio de ao estábulo correr e poder te ver
No estábulo do arrabalde, onde outros te não esperavam.

E por dentro da nossa fragilidade te intrometeste,
Açoitado pela dor, por todas as paixões tentado.
Comeste da nossa fome, bebeste da nossa sede,
Conheceste a ardência do prumo do sol e a geada nocturna no deserto,
O rosto sulcado pela tristeza da partida dos que amaste,
Até a lâmina dos amigos que traem, os íntimos,
E a tortura e a enfermidade.

Mas em tudo permaneceste tu mesmo,

Sem nunca te tornares fragilidade,
A não ser essa nossa fragilidade,
Tanto na hora primeira, quando necessitado de agasalho e do peito da mãe,
Como na derradeira, meu Deus, meu Deus, abandonada da misericórdia do Pai.

Aí a nossa fragilidade toda se consumiu e se consumou.
Entendemos então a verdade e a graça
Feitas carne e sangue,
Feitas cada um de nós.
Hoje, dia de Natal, comemoramos o primeiro dia
De eternidade e força,
Em que
Fizeste de nós o que tu és.

Natal de 2005

1 comentário:

Anónimo disse...

lindo poema, é como tu!